"Homem com H"
Cinebiografia de Ney Matogrosso

stills for Esmir Filho' ne feature film




Texto publicado:


Quando o Renato Hojda me recomendou para esse trabalho, eu mal esperava pela proporção que ele tomaria em minha vida. Ney sempre foi uma figura icônica mas até certo ponto distante para mim. Minha mãe me disse que quase me chamei Yolanda por causa da música que ele interpretava, e o que eu sabia dele se limitava ai. Assim que entrei na sala de Esmir dentro da Paris Filmes um pouco antes das filmagens, recebi o roteiro, alguns livros fotográficos marcados e a recomendação de alguns outros livros biográficos sublinhados. Dentre estes, tem uma frase que não saiu de mim desde então. "Eu nunca fui sutil”. Logo eu que sempre me considerei sutil fui lá tirar fotos da história de um homem que nunca foi sutil.

Da pré até a pós, com um olhar mais aprofundado ao craft desse filme, entendi que Ney é um movimento cultural e estético único no Brasil. Um multiartista com controle absoluto de corpo e uma alma em eterna expansão. Diante dessa grandiosidade toda, a pergunta que não saia da minha cabeça era: Como retratar essa grandiosidade toda, em uma função que (quase) mandatoriamente você deve ser sutil?

Para as pessoas que não estão familiares com a especificidade da minha função no set, segue um breve contexto: A fotografia still dentro de obras cinematográficas é um universo a parte da fotografia em outros campos. Você trabalha para um produto final a parte de registro dos processos a posteriori, divulgação do filme. Enquanto existem 500 pessoas trabalhando para um resultado final que é o filme, você é um dos únicos observadores de todo este ballet por trás das câmeras. Dizem que os melhores fotógrafos de cena são os invisíveis. No entanto, quando penso em Ney, vejo uma marca constante de um olhar direto a lente. Ney percebe o mundo e as pessoas ao seu redor, e por isso me vi em constante contradição.
 Comecei as diárias com medo de ser vista ou ouvida, até que em algum momento, com o conforto de uma equipe e uma abertura de elenco, busquei um equilíbrio entre estar a deriva e momentos intencionais ao ser percebida. Em uma das diárias que Ney visitou em Santa Tereza, no Rio de Janeiro, perguntei: "Como é ter um filme sobre sua vida Ney? Ver todas essas pessoas trabalhando pra contar a sua história?"

Ele pensou um pouco e entre takes, com um riso de canto, respondeu:
Ah, eu só observo! Não é uma coisa que me envaidece nem engrandece sabe? Eu sei que eu sou parte de um todo.

Ouvir isso me atingiu num lugar muito profundo de identificação que de certa forma me libertou e me expandiu a visão sobre essa sutileza que eu buscava. Entendi que grandiosidade e sutileza não se contradizem, se complementam. Que é no sussurro que também conquistamos força para imprimir em nossos trabalhos.

Neste projeto sou parte de um todo e quero continuar observando como esse filme vai reverberar no mundo.

Obrigada Renato Hojda por me levar pra essa jornada criativa por trás das câmeras junto a você. Você é um dos melhores assistentes criativos fotográficos e será um dos melhores diretores de fotografia do nosso Brasil. Obrigada Jesuíta Barbosa e todos os atores que me permitiram chegar tão perto em momentos preciosos de criação. Obrigada Azul Serra, Thales, Gabi e Martin por darem luz e forma a esta obra e consequentemente ao que foi capturado por minhas lentes. Obrigada Kity por me colocar na boca do gol por inúmeras vezes, mesmo quando não era tão confortável para a ordem do dia. E obrigada principalmente pela empatia e amor que você deixa em set. Obrigada Magoo e Verônica, por me darem a maior oportunidade que tive dentro do cinema nacional. Nunca vou esquecer de vocês e como me permitiram crescer e aprender com esse processo. E obrigada Esmir por ser um grande líder, que guia sets gigantes com clareza e leveza. Ao contar histórias de forma excelente, você se tornou um grande professor para mim.

Parabéns a toda equipe. Espero que as fotos sirvam como boas memórias a um filme que celebra e eterniza brilhantemente a obra e vida de Ney.









Com afeto,
Marina Vancini Saldanha. 

































Fim






Definitivamente o projeto mais denso da minha carreira.
Obrigada a todos e assistam o filme na Netflix. 
Beijos,